segunda-feira, 7 de junho de 2010

Parada Gay: A história - II

Como eu disse, hoje faço a segunda postagem sobre a história da homossexualidade na história da humanidade. E já começo agradecendo a quem dedicou tempo para ler a postagem. E ao mesmo tempo agradeço ao amigo Well Bernard, que por mais sumido que estivesse apareceu para registrar seu comment e de forma bem positiva. Meu caro, sua observação ao uso do termo "homossexualismo" foi importante, na verdade foi um descuido de minha parte e vício de linguagem. Estarei atento, e sinta-se a vontade e no dever de criticar tantas vezes quantas necessárias. A sua opinião é importante pra gente. É assim que a gente cresce.
Na quarta-feira eu termino essa trilogia sobre a história da homossexualidade e pretendo já na sexta ou sábado fazer a re-postagem >>
"VALE A PENA LER DE NOVO", fazendo uma crítica ao movimento denominado parada gay. Essa postagem ano passado deu "pano pra manga", muitos condenaram minha postagem, muitos concordaram enfim, acredito que vai ser positivo fazer a reflexão novamente, estamos mais maduros depois de um ano e o contexto é outro, se soubermos fazer uma re-leitura não dos fatos, mas da atualidade com certeza teremos contribuições novas em torno de nossa própria "história de vida" e contextualização. Então vamos lá. Parte II
Atualmente a ciência se ocupa em discutir se a sexualidade humana é determinada biológica ou culturalmente. Já o direito decide se deve estender as conquistas legais da heterossexualidade aos gays ou não. Enquanto isso, é no espaço público que as batalhas mais difíceis ainda são travadas. É no dia-a-dia, nas ruas, nas escolas, nos locais destinados ao lazer, nos hospitais que todos os que tentam se tornar visíveis, sem querer no entanto se transformar em alvo, enfrentam as maiores dificuldades. Talvez seja por isso que, ano após ano desde seu surgimento em 1970, as paradas gays no planeta todo venham ganhando proporções cada vez maiores. Pois, por enquanto, são nessas raras oportunidades que os níveis de tolerância aumentam sensivelmente mundo afora. Momentos em que outras formas de se relacionar podem ser vistas como uma realidade passível de coexistir com a dita normalidade. Sem que isso implique necessariamente na implosão da ordem social estabelecida, no final do mundo ou coisa parecida.
Um dos mais antigos registros da prática sexual entre pessoas do mesmo sexo que se tem notícia é uma pintura encontrada em uma caverna da França. Nela está representado um artefato duplo que, acredita-se, era usado para a realização de sexo entre duas mulheres há cerca de 12 mil anos antes de Cristo. Já na Grécia e Roma antigas, época em que o corpo era cultuado, a representação de jovens se relacionando com homens mais velhos em pinturas, cerâmicas e esculturas era freqüente. Ela retratava a prática, socialmente aceita, de tutores mais velhos iniciarem os jovens em diversos campos do conhecimento. Longe de ser uma apologia à pedofilia, que um olhar contemporâneo poderia supor, a pederastia estava de acordo com os valores daquela sociedade. Aliás, a divisão de sexos como conhecemos hoje sequer tinha sido concebida. O que vigorava era o modelo unissexuado do corpo. Ou seja, só existia o sexo masculino com sua anatomia sexual perfeita. A mulher, por sua vez, era “incompleta” e, segundo o conceito da época, seus órgãos sexuais eram invertidos ou projetados para dentro.
Mostrar o corpo, dançando ao som de música eletrônica,sobre os trios elétricos é uma das atrações das Paradas Gays
Foi somente na Idade Média, com o fortalecimento do cristianismo, que a noção de pecado em relação ao corpo foi introduzida. Com o início da era da supremacia da alma, o sexo virou coisa do demônio, a não ser aquele praticado com finalidades reprodutivas e conseqüentemente entre pessoas de sexo diferentes. Tudo mais que fugisse a essa regra – masturbação, prazer pelo prazer, relações entre indivíduos do mesmo sexo, incesto - era considerado anormal e digno de punição através de penitências, castigos corporais, prisão, tortura ou morte. Estabeleceram-se assim as bases do padrão de conduta sexual da sociedade judaico-cristã que prevalece até hoje.
No século 19, quando a razão passou a ser o foco central do pensamento ocidental, o discurso sobre a sexualidade foi transferido para o domínio da ciência. A idéia era de que se a raça humana se diferenciava dos animais pela racionalidade, então era preciso se comportar de uma forma superior. Portanto os instintos básicos deveriam ser controlados e disciplinados. Assim as manifestações da sexualidade “fora do padrão” passaram a ser consideradas doenças que precisavam ser curadas, adicionando-se à questão do pecado também o caráter patológico. É nesse contexto que surge pela primeira vez a palavra homossexual em 1869. O termo, criado pelo médico húngaro Karoly Maria Benkert, passou a designar pessoas que se sentem atraídas física, emocional, estética e espiritualmente por pessoas do mesmo sexo. Daí para a transformação do "homossexualismo" em doença foi apenas um passo - por isso hoje já não usamos mais homossexualismo e sim homossexualidade. No ano seguinte, o texto "As Sensações Sexuais Contrárias", do psiquiatra alemão Carl Westphal, passava a considerar essa nova identidade sexual como um desvio que precisava ser tratado e curado. Com esse reforço científico, o código penal alemão passou a considerar a homossexualidade como uma prática bestial. Assim, desde sua "invenção", a definição de homossexualidade passou a englobar muitas das experiências sexuais que não estavam de acordo com a prática considerada normal. E também a personificar todo o medo que uma sociedade com rígidos padrões morais tinha de enfrentar mudanças em seus valores e instituições. “Considerava-se que a então chamada ‘inversão sexual’ constituía uma ameaça múltipla: à reprodução biológica, à divisão tradicional de poder entre o homem e a mulher na família e na sociedade e, sobretudo, à manutenção dos valores e da moralidade responsáveis por toda uma ordem e visão de mundo. Essas razões levaram os saberes psiquiátricos e as leis a colocarem o homossexual no grupo dos desviantes, ao lado da prostituta, do criminoso nato e daquele que talvez fosse seu parente mais próximo: o louco”, segundo afirma Richard Miskolci, professor de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos. ( A continuar)...
Abraço a todos.
Jason Waider, o próprio

12 comentários:

Well Bernard disse...

Meninos, vou esperar vocês terminar esse texto para eu guardá-lo na coletânea que estou criando aqui. Muito bom.

Peixos, me liga.

Anônimo disse...

Rapaz, rico conteúdo cultural e científico,muito bom, parabéns pela pesquisa e postagem, parabéns pelo blog, tomei a liberdade de adiciona-lo em minha lista, abraços.

Rond disse...

AMigos.
Vendo pelo meu lado. Ser gay é apenas uma de minhas muitas singularidades. É lógico que os estudos devem continuar, mas a preocupação na cabeça das pessoas já está em um patamar muito baixo.
beijos.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Parabéns ... um verdadeiro tratado sobre o tema ... confesso que não conhecia quase nada sobre o mesmo ...

acompanhando

bjux

;-)

Átila Goyaz disse...

Amigo eu tô vivo rs
Obrigado pelo elogio!
Passando rapidinho aqui.... rs
bj

FOXX disse...

olha...
não é bem assim...

tem mais coisa sobre a sexualidade grega q esse paragrafo não colocou mto bem...
vamos lá

primeiro, esse modelo que vc descreveu é somente ATENIENSE

em Esparta e Tebas, por exemplo, homens podiam casar com homens da mesma idade q eles
em Corinto, a prostituição masculina era uma tarefa sagrada

já sobre a noção de pecado no corpo e na sexualidade ser oriunda da Idade Média, desculpe, mas vc está errado.
Em Roma, mesmo antes do cristianismo, ter relações sexuais com outros homens era considerado errado, só permitido se fosse com um escravo, pq o escravo não era humano.
No Egito, o mesmo acontecia, bem antes de Roma e dos Gregos,
Mas a grande mudança, de fato, acontece com a criação do Cristianismo, sobretudo nas mãos de São Paulo. É na carta aos Coríntios e aos Romanos que Paulo define a política "homofóbica" da Igreja Católica, ainda na Antiguidade, que será repetida na Idade Média. Refletindo a opinião romana sobre esta prática.

Caio Lima disse...

Vc deveria divulgar esses posts ai pra todos os héteros que vc conhece ai em Brasilia e nos blogs que vc acessa.


abraço fui

@JayWaider disse...

Olha só quem apareceu o sumido FoxX.
Então vamos lá e sem polêmicas.
1.É exatamente do modelo ateniense a que me propus afinal é ele o modelo de referência não só grego como nos parâmentros exteriores a própria Grécia.
2. A referência de Tebas e Esparta não cabe no contexto exatamente pelo modelo não ser considerado "errado" era de certa forma aceito e com as bençãos dos deuses e tomando como referência a ideia de cristianismo, o termo "sagrado" não cai bem.
3. O termo pecado é novo no contexto de comportamento sexual não aparecendo anterior à idade média, dado que esse termo foi introduzido pelo cristianismo que transformou práticas ERRADAS em práticas PECAMINOSAS.
O sexo nunca, em nenhuma de suas manifestações era considerado pecado antes da Idade média,ou seja, o termo pecado ainda não existia, só com o cristianismo é que essa nova concepção passa a fazer parte da ideia de certo e errado, tudo porque a Igreja transformou o que supostamente era errado em pecado. Ou seja dizer que algo era errado era deixar aos cuidados do Estado o julgamento e, transformar em pecado era transferir para a Igreja e para Deus o direito de julgar e condenar ao inferno. Essa é a concpeção. Enfim, esse é o objetivo do texto.
4. Ah... deixa pra lá é isso que quero dizer por agora. E adorei sua visita e comentário.
Bju
Jay

FOXX disse...

oi qridos...
bem, acho que a confusão está em vc considerar que o Cristianismo é criado na Idade Média, no entanto, ele tem uns bons cinco séculos antes disso onde Pedro ergue a Igreja e Paulo propõe suas regras.

=)

Desarranjo Sintético disse...

Que post excelente, meu caro Jay. Não é só história e cultura que se misturam aqui, mas acima de tudo informação, e conhecimento sempre ajuda a apagar as trevas da ignorância. Parabéns.

Abraços a vocês dois.

Fábio.

Amon Ribeiro disse...

Ola meu querido q saudade desse blog inspirador!! nossa to aki pra dizer que to de volta, pra agradecer o carinho e os comentarios no meu blog e pra dizer que AMO estar por aqui.. Ler, aprender, me inspirar e atualizar! rapaz vc é mil!!! abs e sucesso sempre

Endim Mawess disse...

QUE POST GLORIOSO UMA MISTURA DE REPORTAGEM ESPECIALIZADA EM CIENCIA E REVISTA SEMANAL, E COM LINGUAGEM BASTANTE ACESSIVEL.